À espera de um bebê, trisal planeja registrar filho com nomes do pai e das duas mães no interior de SP

Depois de 16 anos juntos, o casal Priscila Machado e Marcel Mira se apaixonou pela assistente social Regiane Gabarra. Os três eram amigos, mas em uma conversa revelaram uma paixão mútua e decidiram se unir como um trisal.

Eles contam que enfrentaram uma série de preconceitos e, juntos há três anos e meio, esperam um bebê que deve nascer até o fim de abril. Agora, a família de Bragança Paulista (SP) se prepara para uma disputa na Justiça para o direito de registrar a criança no nome dos três.

Priscila e Marcel eram um casal padrão: evangélicos, com casamento na igreja, filhos e uma união de quase 15 anos quando conheceram Regiane. As duas mulheres começaram a trabalhar juntas e aos poucos manifestaram interesse entre elas.

“Cresci em lar cristão, então não explorei a minha sexualidade. Achei que era isso e pedi que no nosso aniversário de casamento eu e meu marido fizéssemos sexo a três, com uma mulher a mais. A ideia ali era acabar com essa ‘curiosidade’, mas não foi bem assim”, conta.

À época, ela perguntou para Regiane se conhecia alguma balada em que pudessem conhecer outra mulher para o encontro, mas a amiga a repreendeu. Um mês depois, elas se envolveram e no mesmo dia, o casal teve um relacionamento a três.

“A gente passou alguns meses ficando juntos nós três, tentando evitar. Até que eu cheguei em meu marido e disse que amava ele, mas que estava apaixonada por ela. No mesmo momento, ele disse que sim e ela nos confessou que também queria manter o relacionamento com os dois. Foi quando começamos nossa família”, conta Priscila.

Trisal espera filho no interior de São Paulo — Foto: Reprodução
Trisal espera filho no interior de São Paulo — Foto: Reprodução

Regiane diz que se apaixonou pelos dois simultaneamente e que foi surpreendida com o sim de ambos. Ela relata que tinha um relacionamento padrão antes de formar o trisal. Chegou a ser casada por oito anos com um homem, mas estava divorciada quando conheceu o casal.

“Eu achava aquele sentimento diferente e foi difícil aceitar para as pessoas o que eu estava vivendo: um amor por duas pessoas. Depois, aprendi que é possível amar os dois, assim como amamos dois irmãos, dois filhos. O coração tem espaço”, diz.

Priscila, Marcel e Regiane formam trisal — Foto: Reprodução
Priscila, Marcel e Regiane formam trisal — Foto: Reprodução

Eles passaram a morar juntos e já estão há três anos e meio anos juntos. Os filhos de Priscila e Marcel aceitaram a nova mãe. Eles contam que dormem na mesma cama e tem algumas regras, como as duas não manterem relações com Marcel em separado.


Nas redes sociais, o trisal tem o perfil ‘Trisal Amor ao Cubo’ e compartilha a rotina e fala sobre o poliamor. O perfil tem mais de 36 mil seguidores. Regiane conta que ao mesmo tempo que é importante falar sobre configurações diferentes de família, é difícil lidar com os ataques.

“Somos uma família, fora do padrão, mas cercada de respeito. O que a gente faz é se permitir ser livre para amar, não queremos forçar pessoas a decidirem por isso. As pessoas às vezes são duras”, conta.

Maternidade

Três anos e meio depois, eles decidiram ter um filho para realizar o sonho de maternar de Regiane. Para isso, Priscila e Marcel se divorciaram e ele fez uma inseminação artificial – ele já havia feito vasectomia antes de conhecer a nova parceira.

Pierre, que nasce até o fim de abril, tem um pai e duas mães. Os três acompanham o passo a passo da gestão, com ensaios, chá de bebê e presença nas consultas.

Com a proximidade do parto, eles conseguiram que a Santa Casa da cidade permitisse os dois acompanhantes e agora o único detalhe que falta é o registro da criança.

A lei brasileira não reconhece o relacionamento a três e não teria como registrar a criança com duas mães. No caso deles, após o nascimento, eles vão acionar a Justiça pedindo o reconhecimento de responsabilidade socioafetiva, que faria com que Priscila também constasse como responsável pela criança.

O processo é geralmente feito após os 12 anos, quando a família prova o envolvimento da pessoa que faz o pedido e a criança aceita a responsabilidade afetiva perante a justiça. No caso do bebê, eles teriam que pedir que a justiça antecipasse o reconhecimento.

“A gente quer garantir que nosso filho tenha os pais que ele de fato tem, não queremos ofender ninguém”, diz Regiane.

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